Sobre Sexo e Gênero, um fichamento bibliográfico
HARARI,
Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Trad. Janaína
Marcoantonio. Porto Alegre: L&PM, 2020.
· Para
tornar as coisas menos confusas, os estudiosos costumam distinguir entre
“sexo”, que é uma categoria biológica, e “gênero”, uma categoria cultural. O
sexo se divide em masculino e feminino, e as características dessa divisão são
objetivas e permaneceram constantes ao longo da história. O gênero se divide em
homem e mulher (e algumas culturas reconhecem outras categorias). As chamadas
características “masculinas” e femininas” são intersubjetivas e passam por
constantes mudanças. Por exemplo, existem muitas diferenças no comportamento,
nos desejos, na vestimenta e até mesmo na postura corporal esperados das
mulheres da Atenas clássica e da Atenas moderna. (p. 205)
· O sexo
é brincadeira de criança, mas o gênero é coisa séria. Conseguir ser um membro
do sexo masculino é a coisa mais simples do mundo. Basta nascer com um
cromossomo X e um Y. Ser um indivíduo do sexo feminino é igualmente simples. Um
par de cromossomos X resolve o assunto. Por outro lado, ser homem ou mulher é
uma tarefa muito complicada e exigente. Como a maior parte das qualidades
masculinas e femininas são culturais, e não biológicas, nenhuma sociedade coroa
automaticamente cada pessoa do sexo masculino como homem e cada pessoa do sexo
feminino como mulher. Tampouco cada um desses títulos são louros sobre os quais
descansar assim que adquiridos. Os indivíduos do sexo masculino precisam provar
sua masculinidade constantemente durante toda a vida, do berço ao túmulo, em
uma série interminável de ritos e performances. E o trabalho de uma mulher
nunca tem fim – ela deve continuamente, convencer a si mesma e aos demais de
que é feminina o bastante. (p.207)
· O
sucesso não é garantido. Os indivíduos do sexo masculino, em particular, vivem
um temor constante de perder sua afirmação de masculinidade. Durante toda sua vida,
estiveram dispostos a arriscar e até mesmo sacrificar a vida, apenas para que
as pessoas dissessem: “Ele é um homem de verdade!”. (p. 207)
· Pelo
menos desde a Revolução Agrícola, a maior parte das sociedades humanas têm sido
sociedades patriarcais que valorizam mais os homens do que as mulheres.
Independentemente de como a sociedade defina “homem” e “mulher”, ser homem
sempre foi melhor, sociedades patriarcais educam os homens para pensar e agir
de modo masculino e as mulheres para pensar e agir de modo feminino, punindo
qualquer um que ouse cruzar essas fronteiras. Apesar disso, não recompensam da
mesma forma aqueles que se adaptam. Qualidades consideradas masculinas são mais
valorizadas do que aquelas que são consideradas qualidades femininas, e membros
de uma sociedade que personificam o ideal feminino recebem menos do que aqueles
que exemplificam o ideal masculino. Menos recursos são investidos na saúde e na
educação das mulheres; elas têm menos oportunidades econômicas, menos poder
político e menos liberdade de movimento. [...] (p. 207: 2010)
· O
patriarcado tem sido a norma em quase todas as sociedades agrícolas e
industriais. Resistiu teimosamente a levantes políticos, revoluções sociais e
transformações econômicas. [...] (p. 210)
· Como o
patriarcado é tão universal, não pode ser produto de algum círculo vicioso que
teve início por um acontecimento ao acaso. É particularmente digno de nota que,
mesmo antes de 1492, a maior parte das sociedades tanto das Américas quando da
África e da Ásia eram patriarcais, embora não tenham tido contato durante
milhares de anos. [...] É muito mais provável que, embora o conceito preciso de
“homem” e “mulher” varie entre as culturas, exista alguma razão biológica
universal para quase todas as culturas valorizarem a masculinidade em
detrimento da feminilidade. Não sabemos qual é essa razão. [...] (p. 211)

Comentários
Postar um comentário