Homo Deus: uma breve história do amanhã, síntese por Grace Kelly Ferreira
HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
Homo Deus: uma breve história do amanhã
uma síntese por Grace Kelly Ferreira
O livro “Homo Deus: uma breve história do
amanhã”, escrito pelo professor Yuval Noah Harari, de certo modo, é uma
continuação de um outro livro seu – “Sapiens: Uma breve história da Humanidade”,
que narra desde a evolução até a era contemporânea. “Homo Deus” faz um apanhado
inicial de como superamos mortes causadas por guerras, epidemias e pela fome.
E, como que atualmente pessoas morrem mais por conta do açúcar, por obesidade
e por depressão.
“Em
2012, aproximadamente 56 milhões de pessoas morreram no mundo inteiro; 620 mil
morreram em razão da violência humana (guerras mataram 120 mil pessoas, o crime
matou outras 500 mil). Em contrapartida, 800 mil pessoas cometeram suicídio,
1,5 milhões morreram de diabetes. O açúcar é mais perigoso do que a pólvora.”
(HARARI, 2016, p. 24)
Também
sobre a importância de reconhecermos conquistas históricas, percebermos que
erradicamos alguns sintomas sociais através de avanços científicos e
tecnológicos e que reduzimos o sofrimento. Entretanto, segundo Harari, parece
que quanto mais conseguimos o que queremos, mais ambicionamos. O ser humano
parece que nunca se contenta. Assim, as próximas metas da humanidade é: conseguir
superar a morte, superar a infelicidade e atingir a divindade,
por isso o nome do livro – Homo Deus.
Ao
estudar a história podemos nos libertar do passado, segundo Harari. “Historiadores
estudam o passado não para poder repeti-lo, e sim para poder se libertar dele.”
(p. 67) Estudar a história é importante para que nos livremos de uma tal
submissão ao passado. Estudar história:
nos
permite voltar a cabeça para mais de uma direção e começar a perceber
possibilidades inimagináveis para nossos antepassados. Ao observar a cadeia
acidental de eventos que nos trouxe até aqui, nos damos conta de como nossos
pensamentos e sonhos ganharam forma – e podemos começar a pensar e sonhar de
modo diferente. O estudo da história não dirá qual deve ser nossa escolha, mas
ao menos nos dará mais opções. (HARARI, 2016, p. 67)
No
livro também é abordado a relação dos Sapiens com a natureza e sobretudo
com os animais. É citado, por exemplo, o povo Nayaka do sul da Índia e a forma
como esses reverenciam um animal perigoso como tigres, serpentes e até mesmo
elefantes, ao se depararem com um desses na floresta - “Você vive na floresta.
Eu também vivo na floresta. Você veio aqui para comer, e eu vim até aqui para
juntar raízes e tubérculos. Não vim aqui para machucá-lo”. (HARARI, 2016, p.
83)
Ao
longo do livro foi muito discutido sobre a domesticação dos animais e a ideia
de uma “suposta” superioridade que nós, sapiens, temos sobre os mesmos. A ideia
de que temos uma “alma imortal” é a que sustenta essa ideia de superioridade em
relação aos animais. Sobre isso:
As
pessoas hoje imaginam o templo de Jerusalém como uma espécie de grande sinagoga
onde sacerdotes de túnicas brancas como a neve davam as boas-vindas a
peregrinos devotos; coros melodiosos cantavam salmos, e o incenso perfumava o
ar. Na verdade era algo muito mais parecido com um cruzamento em um matadouro
com uma churrascaria. Os peregrinos não vinham de mãos vazias. Traziam consigo
um fluir interminável de ovelhas, cabras, galinhas e outros animais, que eram
sacrificados no altar divino, depois cozidos e comidos. [...] Sacerdotes em
roupas ensanguentadas cortavam a garganta das vítimas, colhiam em jarros o
sangue que esguichava e o derramavam no altar. (HARARI, 2016, p. 98)
Harari,
aborda a relação entre elementos da religião judaico-cristã e elementos
místicos animistas, pegando o nome de Eva, que na maioria das línguas semitas
significa “serpente” ou “serpente fêmea”. Um mito animista arcaico diz que as
serpentes não são nossas inimigas, e sim nossas antepassadas.
Muitas culturas animistas acreditam que os
humanos descendem de animais, inclusive de serpentes e outros répteis. A maior
parte dos aborígenes australianos acreditava que a Serpente Arco-Íris era a
responsável pela criação do mundo. Os povos Aranda e Dieri sustentavam que suas
tribos especificamente eram originárias de lagartos ou serpentes primordiais
que foram transformados em humanos. Na verdade, os ocidentais modernos também
acham que evoluíram de répteis. Nosso cérebro é construído em volta de um cerne
reptiliano, e a estrutura de nossos corpos corresponde essencialmente à de
répteis modificados.”. (HARARI. 2016, p 85)
Para
os cristãos apenas os humanos têm uma alma imortal. E, já que animais não têm
alma, são meros figurantes. Assim, os humanos tornam-se o ápice da criação, ao
passo que todos os demais organismos são empurrados para o segundo plano. Já,
em outras religiões como o budismo, hinduísmo e jainismo existe grande
compaixão pelos animais. O principal preceito ético dessas religiões consiste
em evitar matar qualquer ser vivo. No mandamento bíblico, o “Não matarás”,
serve apenas para humanos. (p. 99, p. 102)
É
possível relacionar a Revolução Agrícola com toda mudança econômica e
religiosa, pois a partir desse processo houve o surgimento de novos tipos de
crenças que justificavam, inclusive, a exploração brutal dos animais. A
Revolução Agrícola deu origem às religiões teístas e a Revolução Científica deu
origem à crença nos seres humanos, o Humanismo. Assim:
Enquanto
a Revolução Agrícola deu origem às religiões teístas, a Revolução Científica
fez nascerem as religiões humanistas, nas quais humanos substituem deuses. Os
teístas cultuam theo (“deus”, em grego), e os humanistas cultuam
humanos. A ideia fundamental das religiões humanistas, como o liberalismo, o
comunismo e o nazismo, é que o Homo sapiens tem uma essência única e
sagrada, fonte de todo o sentido e de toda a autoridade no Universo. Tudo o que
acontece no cosmo é considerado bom ou mau de acordo com o impacto que exerce
sobre o Homo sapiens. (HARARI, 2016, p. 105)
Recentemente,
quando se começou a repensar as relações entre humanos e animais, demonstramos
um interesse inédito no destino das chamadas formas inferiores de vida,
talvez porque estejamos a ponto de nos tornar uma. Algumas perguntas feitas no
livro que, talvez, devêssemos nos fazer:
1. Quando
programas de computador atingirem uma inteligência sobre-humana e um poder
jamais visto, deveremos valorizar esses programas mais do que valorizamos os humanos?
2. Seria aceitável, por exemplo que uma
inteligência artificial explorasse os humanos e até os matasse para contemplar
as necessidades de seus próprios desejos?
3. Se
a resposta é negativa, a despeito da inteligência e do poder superiores, porque
é ético que humanos explorem e matem porcos?
4. Será
que os humanos são dotados de alguma centelha mágica, de uma inteligência
superior e de um poder maior que os distingue de porcos, galinhas, chimpanzés e
programas de computador?
5. Se
sim, de onde vieram essa centelha e certeza de que uma inteligência artificial
nunca poderá adquiri-la?
6. E
se tal centelha não existe, haveria algum motivo para continuar a atribuir um
valor especial à vida humana, mesmo depois que computadores superarem os
humanos em inteligência e em poder?
7. Com
efeito, o que há nos humanos que nos faz tão inteligentes e poderosos, e qual é
a probabilidade de que entidades não humanas venham a rivalizar conosco e nos
ultrapassar?
(HARARI, 2016, p.
107)
As
novas descobertas científicas contradizem completamente a ideia de que nós Sapiens
possuímos uma alma imortal. Todos os cuidadosos e minuciosos exames não
conseguiram descobrir nenhum traço de alma em porcos, ratos ou macacos. Mas os
mesmos experimentos laboratoriais desmontam a segunda e mais importante parte
do mito monoteísta – o de que os humanos têm, sim, uma alma. A evidência
científica de que, ao contrário dos porcos, os humanos têm alma é igual a zero.
(HARARI, p.109)
A
ideia de que nós humanos não temos uma alma imortal causa muita confusão, pois contradiz
muito nossas crenças queridas. A teoria da relatividade, por exemplo, não causa
tanta comoção, pois:
Para
a maioria das pessoas, o fato de o espaço e o tempo serem absolutos ou
relativos não tem a mínima importância. Se você acha possível torcer o espaço e
o tempo, tudo bem, fique à vontade. Vá em frente e os torça. Qual a importância
disso para mim? Em contrapartida, Darwin nos privou de nossas almas. Se você
realmente entente a teoria da evolução, vai aceitar que não existe alma.
Essa é uma ideia terrível não só para cristãos e muçulmanos devotos como também
para muitas pessoas antigas não adeptas de um dogma religioso claro, mas que,
não obstante, querem acreditar que cada humano possui uma essência individual
eterna que permanece imutável no decorrer da vida e que pode sobreviver,
intacta, até mesmo à morte. (HARARI,2016, p. 111)
Sendo
assim, a teoria da evolução não aceita a ideia de alma, se por “alma”
entendemos algo indivisível, imutável e potencialmente eterno. Tal entidade não
poderia resultar de uma evolução passo a passo. (p.112)
Por
conta da escrita e da linguagem é que os humanos têm uma compreensão mais
profunda de si mesmos ou a própria ideia de um eu duradouro, segundo Harari
(2016):
Apenas
os humanos entendem a si mesmos como um eu duradouro que tem um passado e um
futuro, talvez porque somente eles são capazes de usar a língua para poder
contemplar experiências passadas e ações futuras. Os outros animais existem num
eterno presente. Mesmo que pareçam lembrar o passado ou planejar o futuro,
estão somente reagindo a estímulos atuais e impulsos momentâneos. (HARARI, 2016,
p. 132)
Nós
humanos, somos controlados muitas vezes por nossas emoções. As emoções que nos
governam são na verdade algoritmos muito sofisticados. Por exemplo:
Ao
ver um leão, por que um homem foge? Bem, ele se assustou, por isso foge. As
experiências subjetivas explicam as ações humanas. Mas hoje os cientistas
oferecem uma explicação muito mais detalhada. Quando um homem vê um leão,
sinais elétricos se movimentam do olho para o cérebro. Os sinais que entram
estimulam certos neurônios, que reagem disparando mais sinais. Estes estimulam
outros neurônios adiante, que por sua vez disparam seus sinais. Se um número
suficiente dos neurônios corretos dispararem a um ritmo rápido o bastante,
comandos são enviados às glândulas suprarrenais para que inundem o corpo com
adrenalina, o coração é instruído a bater mais rápido, enquanto neurônios no
centro motor enviam sinais para os músculos da perna, os quais começam a se
distender e contrair. Então o homem sai correndo para fugir do leão. (HARARI, 2016,
p. 118)
Nossas
emoções são algoritmos sofisticados que refletem os mecanismos sociais de
antigos bandos de caçadores-coletores.
Harari
também enfatiza sobre toda cooperação humana na história baseada em nossas crenças
em ordens imaginadas. Entende-se como ordens imaginadas, todo “conjunto de regras
que, a despeito de só existirem na nossa imaginação, acreditamos serem tão
reais e invioláveis quanto a gravidade. (2016, p. 149)
Enquanto
todos os Sapiens que habitam um determinado lugar acreditarem nas mesmas
histórias, todos seguirão as mesmas regras, o que facilitará prever o
comportamento de estranhos e organizar redes de cooperação massiva. Sapiens
usam com frequência marcas visuais, como um turbante, uma barba ou um terno
formal para sinalizar: “Pode confiar em mim, acredito na mesma história em que
você acredita”. Nossos primos chimpanzés não são capazes de inventar e
disseminar tais histórias, e é por isso que não conseguem cooperar em grande
escala. (HARARI, 2016, p. 149)
Quando
muitas pessoas praticam juntos um hábito, um costume e tal, daí cria-se
significados coletivos. Sendo assim, pessoas reforçam constante e
reciprocamente suas crenças, num ciclo que se autoperpetua. Cada rodada de
confirmação mútua estreita ainda mais a teia de significados, até não se ter
muita opção a não ser acreditar naquilo em que todos acredita. (2016, p. 152)
Quando
dezenas de milhares de trabalhadores cooperam durante várias décadas, eles
podem construir um lago artificial ou uma pirâmide mesmo com instrumentos de
madeira. (p. 170)
Sendo
assim, estudar história é
“observar
a tecedura e o desfazimento dessa teia e dar-se conta de que o que parece ser o
que há de mais importante na vida de alguém em determinado período torna-se
para seus descendentes algo totalmente desprovido de significados. (HARARI,
2016, p. 152, 153)
Assim
que a história se desenrola. Pessoas criam uma rede de significados, acreditam
nela e mais cedo ou mais tarde a teia se desfaz, e não conseguimos compreender
como alguém a levou a sério. Daqui a cem anos, nossa crença na democracia e nos
direitos humanos pode igualmente parecer incompreensível para nossos
descendentes humanos. (HARARI, 2016, p. 156)
Harari
enfatiza que, historiadores buscam compreender o desenvolvimento de entidades
intersubjetivas, como deuses e nações. Os biólogos dificilmente reconhecem a
existência delas. Alguns acreditam que, se pelo menos conseguirmos quebrar o
código genético e mapear cada neurônio no cérebro, deteremos todos os segredos
da humanidade. “Afinal, se os humanos
não têm alma, e se pensamentos, emoções e sensações são apenas algoritmos
bioquímicos, por que a biologia não poderia responder por todos os
caprichos das sociedades humanas?” (HARARI, 2016, p. 157)
Em
contraste, as ciências humanas:
“enfatizam
a importância crucial das entidades intersubjetivas, que não podem ser
reduzidas a hormônios e neurônios. Pensar em termos históricos significa
atribuir poder real aos conteúdos de nossas histórias imaginárias.
Historiadores, obviamente, não ignoram fatores objetivos tais como mudanças
climáticas e mutações genéticas, mas atribuem importância muito maior às
histórias que as pessoas inventam e nas quais acreditam. (HARARI, 2016, p. 157)
Ao
longo do livro também é abordado como que a realidade foi formatada por detentores
do poder, e poder durante muito tempo estava atrelado aqueles que controlavam à
escrita, assim formataram a realidade do seu lugar na hierarquia:
A
linguagem escrita pode ter sido concebida como um meio poderoso de reformatar a
realidade. Quando relatórios oficiais colidiram com a realidade objetiva, foi a
realidade que teve de se render. Qualquer um que alguma vez teve de lidar com
autoridades do fisco, com o sistema educacional ou com qualquer outra
burocracia complexa sabe que a verdade quase nunca importa. O que está escrito
no formulário é muito mais importante. (HARARI, 2016, p. 174)
E,
o poder dos documentos escritos atingiu seu auge com o surgimento de escrituras
sagradas, quando escribas e sacerdotes escreviam sobre a realidade dos
impostos, campos e celeiros. Os textos foram ganhando poder. Religiosos anotavam
sobre listas das propriedades de um deus, mas também seus feitos e mandamentos.
Tais narrativas foram fundamentais para organização de sociedades. “Você não
vai conseguir organizar massas de pessoas sem se apoiar efetivamente em alguns
mitos ficcionais. Se ficar agarrado à realidade pura, sem misturar nela alguma
ficção, poucos o seguirão.” (HARARI, 2016, p. 178)
Ao
longo da história, religiosos afirmavam que se humanos deixassem de acreditar
em um Deus, toda lei e ordem iriam desaparecer. Mas, as evidências têm nos
mostrado que “quem representa a maior ameaça à lei e à ordem globais são
exatamente aqueles que continuam a acreditar em Deus e em todos os Seus planos
abrangentes. Uma Síria temente a Deus é um lugar muito mais violento do que os
Países Baixos ateus. (HARARI, 2016, p. 228)
***
Se
os povos antigos eram politeístas e os da Idade Média eram teocêntricos
monoteístas, a partir dos tempos modernos o que vai imperar será o Humanismo e
sua ideia central que entra em contraste com o teocentrismo: o
Antropocentrismo. A ideia de que os humanos são o centro e tudo o que ele sente,
pensa, faz. Agora não preciso mais consultar um padre, a Igreja ou a um Deus,
mas sim consultar a mim mesmo, aos meus pensamentos e sentimentos:
Rousseau
afirma que, ao buscar as regras de conduta na vida, ele as encontrou “nas
profundezas de meu coração, traçadas pela natureza em caracteres que ninguém
pode pagar. Só preciso consultar a mim mesmo a respeito do que quero fazer; o
que sinto que é bom é bom, o que sinto que é ruim, é ruim”. (p. 230)
Harari,
enfatiza que, “o terapeuta moderno preenche o lugar que cabia ao sacerdote
medieval, e já é um clichê surrado comparar as duas profissões. (p.230) Porém:
“o
terapeuta não possui um livro sagrado que define o bem e o mal. Quando a mulher
termina de contar sua história, é altamente improvável que ele exclame: “Sua
perversa! Você cometeu um pecado terrível!”. Tampouco é provável que diga:
“Maravilha! Que bom!” Em vez disso, não importa o que ela tenha feito e dito,
possivelmente o terapeuta irá perguntar com voz afetuosa: “Bem, e como você
se sente em relação ao que aconteceu?”. (HARARI, 2016, p. 230)
Ainda
sobre religião e método cientifico, Harari discutiu no livro sobre a ideia,
equivocada, de que a Terra é Plana, citando o livro de Jó 38, 13 para
elucidar. Lá, está dito que Deus poderia “agarrar as beiradas da Terra e os
iníquos seriam dela sacudidos”. Isso implica que, como a Terra tem “beiradas”
que podemos “agarrar”, ela deve ser um quadrado plano. No entanto, para avaliar
o verdadeiro formato da Terra, podemos observar o Sol, a Lua e os planetas a
partir de vários lugares no mundo. Uma vez acumulando um número suficiente de
observações, podemos usar a trigonometria para deduzir não só o formato da
Terra, como também a estrutura de todo o sistema solar. Na prática, isso
significa que cientistas buscam conhecimento passando anos em observatórios,
laboratórios e expedições de pesquisa, a fim de reunir cada vez mais dados
empíricos e de aguçar suas ferramentas matemáticas para interpretar os dados
corretamente. (HARARI, 2016, p. 242, 243)
Outra
ideia fundamental trazida no livro foi a ideia de inteligência desacoplada da
consciência. Até hoje relacionamentos inteligência à uma consciência desenvolvida.
Acreditamos que apenas seres conscientes poderia realizar tarefas que exigissem
alto grau de inteligência, porém, o que estamos vendo é que estão em
desenvolvimento novos tipos de inteligência não conscientes. Tais inteligências
são capazes de realizar tarefas muito melhor que seres humanos “conscientes”. “Tais
tarefas baseiam-se em padrões de reconhecimento, e algoritmos não conscientes
podem rapidamente superar a consciência humana no que diz respeito a esses
padrões.” (HARARI, 2016, p. 314 e 315) Alguns economistas predizem que, cedo ou
tarde, humanos não melhorados serão completamente inúteis. (p. 315)
Como
os algoritmos estão tirando os humanos do mercado de trabalho, a riqueza e o
poder poderão se concentrar nas mãos da minúscula elite que é proprietária
desses algoritmos todo-poderosos, criando uma desigualdade social e política
jamais vista. (HARARI, 2016, p.326)
Harari
listou algumas profissões que tem 99% de probabilidade de que, em 2033, sejam
substituídas por Inteligência Artificial:
operadores de telemarketing e corretores de
seguros perderão seus empregos para algoritmos. Há 98% de probabilidade de que
o mesmo aconteça com árbitros de modalidades esportivas, 97% de que isso
acontecerá com caixas e 96% com chefs. Garçons – 94%. Guias de turismo – 91%.
Padeiros – 89%. Motoristas de ônibus – 89%. Operários na construção civil –
88%. Assistentes de veterinária – 86%. Seguranças – 84% Marinheiros – 83%.
Bartenders – 77%. Arquivistas – 76%. Carpinteiros – 72%. Salva-vidas – 67%. E
assim por diante. Evidentemente, há alguns empregos seguros. A probabilidade de
que algoritmos de computador desempreguem arqueólogos em 2033 é de apenas 0,7%,
porque seu trabalho requer o reconhecimento de padrões altamente sofisticados e
não produz grandes lucros. Daí é improvável que corporações ou governos façam o
investimento necessário para automatizar a arqueologia durante os próximos
vinte anos. (HARARI, 2016, p. 329)
Um
outro conceito abordado foi o da tecnorreligião que vem cortando o cordão
umbilical humanista. A nova religião que vislumbra um mundo que não fica em torno
dos desejos e experiências humanas. A nova religião que emerge é o dataísmo,
que não venera nem deuses, nem humanos, mas sim venera os dados:
Segundo
o dataísmo, o Universo consiste num fluxo de dados e o valor de qualquer
fenômeno ou entidade é determinado por sua contribuição ao processamento de
dados. Isso pode soar como uma noção excêntrica e marginal, mas o fato é que
ela já conquistou a maioria do estamento científico. [...] Simultaneamente, nas
oito décadas desde que Alan Turing formulou a ideia da máquina que leva seu nome,
cientistas da computação aprenderam a projetar e fazer funcionar algoritmos eletrônicos
cada vez mais sofisticados. O dataísmo reúne os dois, assinalando que
exatamente as mesmas leis matemáticas se aplicam tanto aos algoritmos bioquímicos
como aos eletrônicos. O dataísmo, portanto, faz ruir a barreira entre animais e
máquinas com a expectativa de que, eventualmente, os algoritmos eletrônicos decifrem
e superem os algoritmos bioquímicos. (HARARI, 2016, p. 370)
Enfim, é impossível sintetizar tanto conhecimento de um livro de quase quatrocentas páginas em dez páginas apenas. Este texto foi apenas uma maneira de compilar as ideias centrais do livro e nos fazer pensar a partir delas. Ideias como a busca pela imortalidade, pela felicidade, busca pela divindade, a superação do humanismo, do liberalismo, a ideia de que somos organismo compostos por algoritmos bioquímicos e a nova religião, o dataísmo. O livro é muito amplo e como diz o autor, não é nada profético, são apenas possibilidades do que pode acontecer nos próximos anos de acordo com a história e a ciência.
HARARI, Yuval Noah. Homo
Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

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