Fichando o livro 21 Lições para o século 21

          Olá, aqui é a Grace, criadora deste blog e o que segue abaixo são apenas trechos literais do livro do historiador israelense Yuval Noah Harari - 21 lições para o século 21, publicado em 2018, ou seja, antes da pandemia do Covid-19. Foram os trechos que almejo fazer uma síntese no futuro. Importante mesmo ler o livro na íntegra, fazer suas próprias reflexões e tirar suas próprias conclusões. Sugiro ler antes, os outros dois livros do autor: Sapiens - Uma breve História da Humanidade e Homo Deus: uma breve história do amanhã. 

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HARARI, Yuval Noah. 21 Lições para o século 21. Tradução Paulo Geiger. – 1º ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 


Parte 1 
O desafio tecnológico 

Os humanos pensam em forma de narrativas e não de fatos, números ou equações, e, quanto mais simples a narrativa, melhor. Toda pessoa, grupo e nação tem suas próprias lendas e mitos. Mas durante o século XX as elites globais em Nova York, Londres, Berlim e Moscou  formularam três grandes narrativas que pretendiam explicar todo o passado e predizer o futuro do mundo inteiro: a narrativa fascista, a narrativa comunista e a narrativa liberal. (p. 21) 

[...]

Talvez no século XXI as revoltas populares sejam dirigidas não contra uma elite econômica que explora pessoas, mas contra a elite econômica que já não precisa delas. Talvez seja uma batalha perdida. É muito mais difícil lutar contra a irrelevância do que contra a exploração. (p. 28)

[...]

Consequentemente, nos restou a tarefa de criar uma narrativa atualizada para o mundo. Assim como as convulsões da Revolução Industrial deram origem às novas ideologias do século XX, as próximas revoluções na biotecnologia e na ternologia da informação exigirão novas visões e conceitos. As próximas décadas serão, portanto, caracterizadas por um intenso exame de consciência e pela formulação de novos modelos sociais e políticos. (p. 37) 

 [...] 

2. Trabalho 
Quando você crescer, talvez não tenha um emprego 

“é possível que o mercado de trabalho em 2050 se caracterize pela cooperação, e não pela competição, entre humanos e IA. Em campos que vão do policiamento à atividade bancária, equipes formadas por humanos e IA poderiam superar o desempenho tanto de humanos quanto de computadores. (p. 52)

 [...]

O problema com todos esses novos empregos, no entanto, é que eles provavelmente exigirão, altos níveis de especialização, e não resolverão, portanto, os problemas dos trabalhadores não qualificados que estão desempregados. ( p. 52)

Como consequência, apesar do aparecimento de muitos novos empregos humanos, poderíamos assim mesmo testemunhar o surgimento de uma nova classe de “inúteis”. Poderíamos de fato ficar com o que há de pior nos dois mundos, sofrendo ao mesmo tempo de altos níveis de desemprego e de escassez de trabalho especializado. (HARARI, p. 53)

Mudanças são sempre estressantes, e o mundo frenético do início do século XXI gerou uma epidemia global de estresse. Será que as pessoas serão capazes de lidar com a volatilidade do mercado de trabalho e das carreiras individuais? Provavelmente vamos precisar de técnicas de redução de estresse ainda mais eficazes – desde medicamentos, passando por psicoterapia e meditação – para evitar que a mente do Sapiens entre em colapso. Uma classe “Inútil” pode surgir em 2050 devido não apenas à falta absoluta de emprego ou de educação adequada, mas também devido à falta de energia mental. (p. 56)

 

Assim, se humanos não são necessários nem como produtores nem como consumidores, o que vai salvaguardar sua sobrevivência física e bem-estar psicológico? Não podemos esperar que a crise irrompa com toda a força antes de começarmos a buscar as respostas. Para lidar com as rupturas tecnológicas e econômicas inéditas do século XXI, precisamos desenvolver novos modelos sociais e econômicos o quanto antes. Esses modelos deveriam ser orientados pelo princípio de que é preciso proteger os humanos e não os empregos. Muitos empregos são uma faina pouco recompensadora, que não vale a pena salvar. Ser caixa não é o sonho de vida de ninguém. Deveríamos nos focar em prover as necessidades básicas das pessoas e em proteger seu status social e aua autoestima. (p. 61)


Sobre Renda Básica Universal 

O objetivo do auxílio básico universal é o atendimento às necessidades humanas básicas, mas não existe uma definição aceita para isso. Do ponto de vista puramente biológico, um Sapiens precisa de 1,5 mil a 2,5 mil calorias por dia para sobreviver. Tudo o que exceder isso é luxo. Mas, além e acima dessa linha de pobreza biológica, toda cultura na história definiu necessidades adicionais como básicas. Na Europa medieval, o acesso a serviços religiosos na igreja era considerado mais importante que o alimento, porque cuidaca da alma eterna, e não do corpo efêmero. Na Europa atual, serviços de educação e de saúde decentes são considerados necessidades humanas básicas, e há quem alegue que até mesmo o acesso à internet hoje é essencial a todo homem, mulher e ciração. Se em 2050 o governo Mundial Unido concordar em taxar o Google, Amazon, Baidu e Tencent para oferecer ajuda básica a todo ser humano na Terra - tanto em Dacca como em Detroit -, o que será considerado "básico"? (p. 65 e 66) 


3. Liberdade 
Big Data está vigiando você 


Sentimentos morais como indignação, culpa ou perdão derivam de mecanismos neurais que evoluíram para permitir cooperação grupal. Todos esses algorismos bioquímicos foram aprimorados durante milhões de anos de evolução. (p. 73) 

"...porque a maioria das pessoas não conhece a si mesma muito bem, e porque a maioria das pessoas frequentemente comete erros terríveis nas decições mais importantes da vida. Até mais que os algoritmos, humanos padecem de falta de dados, programas falhos (genéticos e culturais), de definições confusas e do caos da vida." (p. 79) 


Segundo a famosa frase do Winston Chirchil, a democracia é o pior dos sistemas políticos do mundo, com exceção de todos os outros. As pessoas talvez cheguem à mesma conclusão no que concerne aos algoritmos de Big Data: eles têm muitos problemas, mas não temos alternativa melhor. (p. 79) 

Quando a autoridade passa de humanos para algoritmos, não podemos mais ver o mindo como o campo de ação de indivíduos esforçando-se por fazer as escolhas certas. Em vez disso, vamos perceber o universo inteiro como um fluxo de dados, considerar organismos pouco mais que algoritmos bioquímicos e acreditar que a vocação cósmica da humanidade é criar um sistema universal de processamento de dados - e depos fundir-se a ele. (p. 83) 

As emoções humanas triunfam sobre teorias filoóficas em inúmeras outras situações. Isso torna a história ética e filosófica do mundo uma narrativa deprimente de ideais maravilhosos e comportamentos menos que ideais. Quantos cristãos oferecem a outra face, quantos budistas superam obsessções egoístas, e quantos judeus realmente amam seu próximo como a si mesmos? É a maneira como a seleção natural moldou o Homo sapiens. Como todos os mamíferos, o Homo sapiens usa emoções para tomar rapidamente decições de vida ou morte. Herdamos nossa raiva, nosso medo e nossa paixão de milhões de ancestrais, que passaram pelo mais rigoroso teste de qualidade da seleção natural. (p. 85) 


No entanto, poderá haver algumas novas aberturas para os filósofos, haverá subitamente grande demanda por suas qualificações  - até agora destituídas de quase todo valor de mercado. Assim, se você quer estudar algo que lhe assegure um bom emprego no futuro, talvez a filosofia não seja uma aposta tão ruim. (p. 88) 

Imagine a situação: você comprou um carro novo, mas antes de começar a usá-lo tem de abrir o menu de configurações e escolher cada uma das diversas opções. Em caso de acidente, quer que o carro sacrifique sua vida - ou que mate a família no outro veículo? Essa é uma escolha que você quer mesmo fazer? Pense nas discussões que vai ter com seu marido sobre qual opção escolher. 

Assim, talvez o Estado devesse intervir para regular o mercado, e instituir um código de ética a ser obedecido por todos os carros autodirigidos? Sem dúvida alguns legisladores ficarão emocionados com a oportuidade de finalmente fazer leis que serão sempre seguidas à risca. (p. 89) 

Porém na realidade não há motivo para supor que a inteligência artificial vá desenvolver consciência, porque inteligência e consciência são muito diferentes. Inteliguência é a aptidão para resolver problemas. Consciência é a aptidão para sentir coisas como dor, alegria, amor e raiva. Tendemos a confundir os dois porque nos humanos e nos outros mamíferos a inteligência anda de maos dadas com a consciência. Mamíferos resolvem a maioria dos problemas sentindo coisas. Computadores, no entando, resolvem problemas de maneira muito diversas. (p. 98) 

Ditaduras digitais não são o único perigo que nos aguarda. Juntamente com a liberdade, a ordem liberal também dá grande valor à igualdade. O liberalismo sempre zelou pela liberdade política, e gradualmente veio a se dar conta de que a igualdade econômica é quase tão importante. Pois sem uma rede de segurança social e um mínimo de igualdade econômica, a liberdade não tem sentido. Mas, assim como os algoritmos de Big Data poderiam extinguir a liberdade, eles poderiam simultaneamente criar a sociedade mais desigual que já existiu. Toda a riqueza e todo o poder do mundo poderiam se concentrar nas mãos de uma minúscula elite, enquanto a maior parte do povo sofreria, não de exploração, mas de algo muito pior - irrelevância. 


4. Igualdade
Os danos dos dados são os danos do futuro 


Se quisermos evitar a concentração de toda a riqueza e de todo o poder nas mãos de uma pequena elite, a chave é regulamentar a propriedade dos dados. Antigamente a terra era o ativo mais importante no mundo, a política era o esforço por controlar a terra, e se muitas terras acabassem se concentrando em poucas mãos  - a sociedade se dividia em aristocracia e pessoas comuns. Na era moderna, máquinas e fábricas tornaram-se mais importantes que a terra, e os esforços políticos focam-se no controle desses meios de produção. Se um número excessivo de fábricas se concentrasse em poucas mãos - a sociedade se divididia entre capitalistas e proletários. Contudo, no século XXI, os dados vão suplantar tanto a terra quanto a maquinaria como o ativo mais importante, e a política será o esforço por controlar o fluxo de dados.Se os dados se concentrarem em muitas poucas mãos - o gênero humano se dividirá em espécies diferentes. (p. 107) 

Assim, faríamos melhor em invocar juristas, políticos, filósofos e mesmo poetas para que voltem sua atenção para essa charada: como regular a propriedade de dados? Essa talvez seja a questão política mais importante de nossa era. Se não formos capazes de responder a esse pergunta logo, nosso sistema sociopolítico pode entrar em colapso. As pessoas já estão sentindo a chegada do cataclismo. Talvez seja por isso que cidadãos do mundo inteiro estão perdendo a fé na narrativa liberal, que apenas uma década atrás parecia irresistível. (p. 111) 

 5. Comunidade 
Os humanos têm corpos 

"...algoritimos podem ser bons para navegação de veículos e para curar doenças, mas quando se trata de resolver problemas sociais, deveríamos ainda confiar em políticos e sacerdotes." (p. 118) 


6. Civilização 
Só existe uma civilização no mundo


O fato de você ser um chimpanzé ou um gorila depende de seus genes e não de suas crenças, e genes diferentes determinam comportamentos sociais distintos. Chimpanzés vivem em grupos mistos de machos e fêmeas. Eles competem pelo poder formando coalizões de apoiadores de ambos os sexos. Entre os gorilas, em contraste, um único macho dominante estabelece um harém de fêmeas, e comumente expulsa todo macho adulto que possa desafiar sua posição. (p. 126) 


Grupos humanos se definem mais pelas mudanças por que passam do que pela continuidade, mas ainda assim eles conseguem criar para si mesmos identidades antigas graças a seu talendo para contar histórias. (p. 127 e 128) 

As pessoas ainda têm religiões e identidades nacionais diferentes. Mas quando se trata de coisas práticas - como construir um Estado, uma economia, um hospital ou uma bomba - quase todos nós pertencemos à mesma civilização. Há discórdia, sem dúvida, mas todas as civilizações têm suas disputas internas. Na verdade, elas são definidas por essas disputas. [...] Ser um europeu em 1618 significava estar obsecado por pequenas diferenças doutrinárias entre católicos e protestantes, ou entre calvinistas e luteranos, e estar disposo a matar e ser morto por causa dessas diferenças.s Se um ser humano em 1618 não se incomodasse com conflitos religiosos, essa pessoa talvez fosse turca ou hindu, mas certamente não era europeia. (p. 141) 


As pessoas com quem brigamos mais frequentemente são membros de nossa própria família. A identidade é definida mais por conflitos e dilemas do que por concordâncias. (p. 142) 

Os grandes desafios do século XXI serão de natureza global. (p. 142) 

Sem dúvida teremos enormes discussões e conflitos amargos quanto a essas questõões. Mas não é provável que  essas discussões e esses conflitos nos isolem uns dos outros. Exatamente o contrário. Eles nos tornarão interdependentes. Embora o gênero humano esteja longe de constituir uma comunidade harmoniosa, somos todos membros de uma única e conflituosa civilização global. (p. 143) 


7. Nacionalismo 
Problemas globais exigem respostas globais 

As pessoas se deram ao trabalho de construir coletividades nacionais porque se confrontavam com desafios que não podiam ser resolvidos por uma única tribo. (p. 145) 

Nenhuma tribo poderia resolver sozinha seus problemas, porque cada tribo só dominava uma pequena seção do rio e não poderia mobilizar mais do que poucas centenas de trabalhadores. Somente um esforço comum para construir enormes barragens e cavar centenas de quilômetros de canais poderia conter e controlar o poderoso rio. Esse foi um dos motivos pelos quais as tribos aos poucos coalesceram numa única nação que teve o poder de construir barragens e canais, regular o fluxo do rio, construir reservatórios de grãos para os anos magros e estabelecer um sistema de transporte e comunicação abrangendo todo o país. (p. 145) 

A ameaça maior é a mudança climática. Os humanos existem há centenas de milhares de anos, e sobreviveram a inúmeras idades do gelo e ondas de calor. No entanto, a agricultura, as cidades e as sociedades complexas existem há menos de 10 mil anos. Durante esse período, conhecido como Holoceno, o clima da Terra tem sido relativamente estável. Qualquer desvio dos padrões do Holoceno apresentará às sociedades humanas desafios enormes com os quais nunca se depararam. Será como fazer um experimento em aberto com bilhões de cobaias humanas. Mesmo que a civilização se adapte posteriormente às novas condições, quiem sabe quantas vítimas perecerão no processo de adaptação? (p. 151 e 152)  


A mudança climática é uma realidade presente. Existe um conseso científico de que atividades humanas, particularmente a emissão de gases de efeito estufa como do dióxido de carbono, estão fazendo o clima da terra mudar num ritmo assustador. [...] o que resultará na expansão dos desertos, no desaparecimento de calotas de gelo, na elevação dos oceanos e em maior recorrência de eventos climáticos extremos, como furações e tufões. Essas mundanças, por sua vez, não desmantelar a produção agrícola, inundar cidades, tornar grande parte do mundo inabitável e despachar centenas de milhões de refugiados em busca de novos lares. (p. 152) 

Sobre a indústria da carne:

Inovações tecnológicas podem ser úteis em muitos outros campos além da energia. Considere, por exemplo, o potencial de desenvolver uma "carne limpa". Atualmente a indústria da carne não só inflinge imenso sofrimento a bilhões de seres senscientes como também é uma das causas do aquecimento global, um dos principais consumidores de antibióticos e veneno e um dos maiores poluidores do ar, da terra e da água. Segundo um relatório de 2013 da Institution Of Mechanical Engineers, são necessários 15 mil litros de água fresca para produzir um quilograma de carne bovina, comparados com 287 litros necessários para produzir um quilograma de batatas. (p. 153, 154) 

A pressão sobre o meio ambiente provavelmente só vai piorar à medida que a prosperidade crescente de países como a China e Brasil permitir que centenas de milhões deixem de comer apenas batatas e passem a comer carne regularmente. Seria difícil convenver chineses e brasileiros - isso sem mencionar americanos e alemães - a parar de comer bifes, hambúrgueres e salcichas. Mas e se os engenheiros fossem capazes de encontrar uma maneira de produzir carne a partir de célular? Se quiser um hambúrguer, crie apenas um hambúrguer, em vez de criar e abater uma vaca inteira (e transportar a carcaça por milhares de quilômetros). (p. 154) 

Isso pode soar como ficção científica, mas o primeiro hambúrguer limpo foi criado a partir de células - e depois comido - em 2013. Custou 330 mil dólars. Quatro anos de pesquisa e desenvolvimento trouxeram o preço para onze dólares por unidade, e dentro de mais uma década espera-se que a carne limpa produzida industrialmente seja mais barata do que a carna abatida. Esse desenvolvimento tecnológico pode salvar bilhões de animais de uma vida de miséria abjeta, ajudar a alimentar bilhões de humanos malnutridos e ao mesmo tempo ajudar a impedir o colpaso ecologico. (p. 154) 


8. Religião 
Deus agora serve à nação 


Até agora, ideologias modernas, cientistas e governos nacionais não conseguiram criar uma visão para o futuro da humanidade. Será que essa visão pode ser obtida nos profubdos poços das tradições religiosas? Talvez a resposta esteja esperando por nós desde sempre nas páginas da Bíblia, do Corão ou dos Vedas? (p. 164) 

Na década de 1970, teólogos na América Latina criaram a Teologia da Libertação, fazendo com que Jesus lembrasse um pouco Che Guevara. Da mesma forma, Jesus pode ser facilmente recrutado para debater o aquecimento global e fazer com que posições políticas atuais pareçam principios religioos eternos. (p. 170) 

Assim, no século XXI as religiões não trazem chuva, não curam doenças, não constroem bombas - mas sim determinam quem somos "nós" e quem são "eles", quem devemos cuar e quem devemos bombardear.  (p. 172) 

Por isso, o Japão preservou a religião nativa do Xintoismo como pedra angular da identidade japonesa. Na verdade, o Estado japonês reinventou o Xintoismo, que tradicionalmente era uma barafunda de crenças animistas em várias divindades, espiritos favoritos e costumes locais. Entre o final do século XIX e o início do século XX, o Estado japonês criou uma verão oficial do Xintoismo, desetimulando tradições locais. Esse "Estado Xintoísta" funciu ideias muito modernas de nacionalidade e raça, que a elite japonesa foi buscar nos imperialistas europeus. Todo elemento do budismo, do confucionismo e do éthos feudal samurai que fosse útil para cimentar a lealdade ao Estado foi adicionado à mistura. Para culminar tudo isso, o Estado Xintoísta consagrou como princípio supremo o culto ao imperador japonês, considerado descendente direto da deusa Sol Amaterasu, e ele mesmo na menos que um deus vivente. (p. 174) 


O gênero humano constitui agora uma única civilização, e problemas como guerra nuclear, colapso ecológico e disrupção tecnológica só podem ser resolvidos em nível global. Por outro lado, nacionalismo e religião ainda dividem nossa civilização em campos diferentes e às vezes hostis. Essa colisão entre problemas globais e identidades locais se manifesta na crise que agora assola o maior experimento multicultural do mundo - a União Europeia. Erigida na promessa de valores liberais universais, a União Europeia está cambaleando à beira da desintegralão devido à dificuldades de integração e imigração. (p. 177)


9. Imigração 
Algumas culturas talvez sejam melhores que outras 

Atualmente, não está claro se a Europa é capaz de achar um caminho intermediário que lhe permita manter suas portas abertas a estrangeiros sem ser desestabilizada por pessoas que não compartilham seus valores. Se a Europa conseguir achar esse caminho, talvez sua fórmula possa ser copiada em nível global. No entanto, se o projeto europeu falhar, isso seria indicação de que a crença nos valores liberais de liberdade e tolerância não é suficiente para resolver os conflitos culturais do mundo e unir o gênero humano diante da possibilidade de uma guerra nuclear, de um colapso ecológico e da disrupção tecnológica . Se gregos e alemães não conseguirem se entender quanto a um destino comum, e se 500 milhões de europeus afluentes não forem capazes de absorver uns poucos milhões de refugiados empobrecidos, que possibilidades terão os humanos de superar os conflitos muito mais profundos que assolam nossa civilização? (p. 196) 
10. Terrorismo 
Não entre em pânico
 
Por isso os terroristas se parecem com uma mosca tentando destruir uma loja de porcelana. A mosca é tão fraca que não consegue mover uma única xícara de chá. Então como é que pode destruir a loja inteira? Ela acha um touro, entra em sua orelha e começa a zumbir. O touro se enfurece, de medo e de raiva, e destrói a loja. Foi isso que aconteceu após o Onze de Setembro, quando fundamentalistas islâmicos incitaram o touro americano a destruir a loja de porcelanas do Oriente Médio. Agora, eles florescem entre os escombros. E não faltam toruros com pavio curo no mundo. (p. 203) 


No século XIV a Peste Negra matou entre um quarto e metade da população europeia, mas nenhum rei perdeu seu trono em consequência disso, e nenhum deles se esforçou muito para terminar com a peste. Ninguém pensava então que evitar pestes era parte das tarefas de um rei. Por outro lado, governantes que permitiram que a heresia religiosa se disseminasse em seus domínios arriscavam-se a perder sua coroa, ate mesmo sua cabeça. (p. 207) 

Hoje, um governo pode adotar em relação à violência doméstica e sexual uma abordagem mais suave do que em relação ao terrorismo, porque, apesar do impacto de movimentos como o #MeToo, o estupro não compromete a legitimidade do governo. Na França, por exemplo, são relatadas às autoridades mais de 10 mil casos de estupro por ano, e provavelmente dezenas de milhares de outros nem são reportantos. Estupradores e maridos abusivos, no entanto, não são considerados uma ameaça existencial ao Estado francês, porque historiacamente o Estado não está construído sobre a promessa de que vai eliminar a violência sexual. Em contraste, os casos de terrorismo, muito mais raros, são vistos como uma ameaça mortal à República Francesa, porque nos últmos séculos os Estados modernos ocidentais têm estabelecido sua legitimidade com base sna promessa explícita de não tolerar violência política em suas fronteiras. (p. 207) 
11. Guerra 
Nunca substime a estupidez humana 

Um remédio potencial para a estupidez humana é uma dose de humildade. Tensões nacionais, religiosas e culturais são agravadas pelo sentimento grandioso de que minha nação, minha religião e minha cultura são as mais importantes do mundo - por isso meus interesses vêm antes dos interesses de qualquer outra pessoa ou da humanidade como um todo. O que poderesmos fazer para que nações, religiões e culturas sejam um pouco mais realistas e modestas quanto a seu verdadeiro lugar no mundo? (p. 227) 

12. Humildade 
Você não é o centro do mundo 

A maioria das pessoas está propensa a acreditar que é o centro do mundo, e que sua cultura é o sustentáculo da história humana. Muitos gregos acreditam que a história começou com Homero, Sófocles e Platão, e que todas as ideias e invenções importantes nasceram em Atenas, Esparta, Alexandria e Constantinopla. Nacionalistas chineses replicam que a história começou realmente com o Imperdor Amarelo e as dinastia Xia e Shang, e as realizações de ocidentais, muçulmanos ou indianos não são mais que pálida cópia das inovações originais chinesas. (p. 228) 

[...] Nenhuma das religiões ou nações atuais existia quando os humanos colonizaram o mundo, domesticaram plantas e animais, construíram as primeiras cidades, ou inventaram a escrita e o dinheiro. Moralidade, arte, espiritualidade e criatividade são aptidões humanas universais incorporadas em nosso DNA. Sua origem está na África da Idade da Pedra. É, portanto, egotismo crassi atribuí-los a um lugar e um tempo mais recentes, seja a China na época do Imperador Amarelo, a Grécia na época de Platão ou a Árábia na época de Maomé. (p. 229) 

O papel do judaísmo na história do gênero humano é um pouco como o papel da mãe de Freud na moderna história ocidental. Para o bem ou para o mal, Sigmund Freud teve imensa influência na ciência, na cultura, na arte e na sabedoria popular do Ocidente moderno. Também é verdade que sem a mãe de Freud não teríamos Freud, e que a personalidade de Freud, suas ambições e opiniões provavelmente foram modeladas em grande medida por suas relações com a mãe - como ele seria o primeiro a admitir. Mas, quando se escreve a história do Ocidente moderno, ninguém espera que haja um capítulo inteiro sobre a mãe de Freud. Da mesma forma, sem o judaísmo não se teria cristianismo, mas isso não justifica dar muita importância ao judaísmo quando se escreve a história do mundo. A questão crucial é o que o cristianismo fez com o legado de sua mãe judia. (p. 233) 

Os cientistas hoje em dia afirmam que a moralidade, na verdade, tem profundas raízes evolutivas que precedem o surgimento do gênero humano em milhões de anos. Todos os mamíferos sociais, como lobos, golfinhos e macacos, têm códigos éticos, adaptados pela evolução para promover a cooperação no grupo. Por exemplo, quando filhotes de lovo brincam uns com os outros eles têm regras de "jogo limpo". Se um filhote morde com muita força, ou continua a morder um adversário que rolou de costas, rendendo-se, os outros filhotes vão deixar de brincar com ele. (p. 235) 


Genocídio como dever religioso

Alguns sábios judeus alegaram que até mesmo o famoso mandamento "Ama o próximo como a ti mesmo" refere-se apenas a judeus, e que não existe nenhum mandamento para amar gentios Na verdade, o texto original do Levítico diz " Não te vingarás ou guardarás rancos contra os filhos do teu povo. Amarás o próximo como a ti mesmo" (Levítico 19,18) , o que desperta a suspeita de que " teu próximo" refere-se somente a "alguém do teu povo". Essa suspeita é muito reforçada pelo fato de que a Bíblia ordena aos judeus que exterminem certos povos, como os amalequitas e os canaanitas. "Não deixarás sobreviver nenhum ser vivo" decreta o livro sagrado. "Sim, sacrificarás como anátemas os heteus, os amorreus, os cananeus, os heveus, os jebuseus, conforme Iahweh teu Deus te ordenou". (Deuteronômio 20, 16-7). Essas são as primeiras ocasiões registradas na história humana em que o genocídio é apresentado como um dever religioso. 

E, numa éroca em que o judaísmo ainda ordenava o sacrifício de animais e o extermínio sistemático de populações humanas inteiras, Buda e Mahavira já instruíam seus seguidores que evitassem fazer mal não apenas a seres humanos, mas a quaisquer seres senscientes, inclusive insetos. Por isso não faz sentindo nenhum creditar ao judaísmo e a sua descendência cristã e muçulmana a criação da moralidade humana. (p. 239) 

[...] já que a primeira evidenência clara do monoteísmo vem da revolução religiosa do faraó Aquenáton, por volta de 1350 a.C., e que docimentos como o da Estela de Mesa (erigida pelo rei moabita Mesa) indicam que a religião bíblica de Israel não era em nada diferente das religiões de reinos vizinhos, como Moab. [...] De um ponto de vista ético, o monoteísmo foi sem dúvida uma das piores ideias na história humana. (p. 239)

O monoteísmo pouco fez para melhorar os padrões morais dos humanos - você acha mesmo que os muçulmanos são inerentemente mais éticos que os hindus, só porque muçulmanos acreditam num deus único enquanto os hindus acredital em muitos deuses? Os conquistadores cristãos foram mais éticos do que as tribos pagãs? O que o monoteísmo sem dúvida fez foi deixar as pessoas muito mais intolerantes do que eram, contribuindo assim para a disseminação das perseguições religiosas e guerras santas. Politeístas acham aceitável que povos diferentes cultuem deuses diferentes e realizem ritos e rituais diversos. Raramente, se é que alguma vez, combatem, perseguem ou matam pessoas só por causa de suas crenças religiosas. Os monoteístas, em contraste, acreditam que seu Deus é o único deus, e que Ele exigiu obediência universal. Consequentemente, quando o cristianismo e o islamismo se espalharam pelo mundo, espalhou-se também a incidência de cruzadas, juhads, inquisições e discriminação religiosa. (p. 240) 


13. Deus 
Não tomarás o nome de Deus em vão 

Moralidade não quer dizer "cumprir os mandamentos divinos". Quer dizer "diminuir sofrimento". Daí que, para agir moralmente, não é preciso acreditar em nenhum mito ou narrativa. Só é necessário desenvolver uma profunda noção do que é o sofrimento. Se você souber que uma ação causa um sofrimento desnecessário a você e a outros, você naturalmente se abster´pa de empreendê-la. Assim mesmo, pessoas assassinam, estupram e roubam porque só têm uma noção superficial da infelicidade que isso causa. Estão obcecadas em safisfazer sua paixão ou ganância imediatas, sem se preocupar com o impacto sobre os outros ou  mesmo o impacto sobre elas mesmas a longo prazo. (p. 250 e 251) 


14. Secularismo 
Tenha consciência de sua sombra 

O que significa ser secular? O secularismo às vezes é definido como negação da religião, e as pessoas seculares são, portanto, caracterizadas por aquilo em que não acreditam e não fazem. [...] Em contraste, as pessoas seculares sentem-se confortáveis com múltiplas identidades híbridas - [...] cultua valores como liberdade, compaixão, igualdade, coragem e responsabilidade. ( p. 254, 255)
 
O compromisso secular mais importante é com a verdade, que se baseia em observação e evidência e não apenas na fé. Os seculares esforçam-se para não confundir verdade com crença. (p. 256) 

[...] a educação secular ensina as crianças a distinguir verdade de crença; a desenvolver sua compaixão por todos os seres que sofrem; a apreciar a sabedoria e as experiências de todos os habitantes da Terra; a pensar livremente sem temer o desconhecido; a assumir responsabilidade por suas ações e pelo mundo como um todo. (p. 261) 

15. Ignorância
Você sabe menos do que pensa saber 

Se você de fato quer a vedade, precisa escapar do buraco negro do poder, e permitir-se despediçar muito tempo vagando aqui e ali na periferia. O conhecimento revolucionário raramente chega ao centro, porque o centro está construído sobre um conhecimento já existente. Os guardiões da velha ordem normalmente determinam quem vai chegar aos centros do poder, e tendem a reter o filtro os portadores de perturbadoras ideias não convencionais. (p. 277) 


16. Justiça 
Nosso senso de justiça pode estar desatualizado 


17. Pós verdade 
Algumas fake news duram para sempre 

Os humanos sempre viveram na era da pós-verdade. O Homo sapiens é uma espécie da pós-verdade, cujo poder depende de criar ficções e acreditar nelas. Desde a Idade da Pedra, mitos que se autorreforçavam serviam para unir coletivos humanos. Realmente, o Homo sapiens conquistou esse planeta graças, acima de tudo, à capacidade exclusiva dos humanos de criar e disseminar ficções. (p. 290) 

Temos zero evidência científica de que Eva foi tentada pela serpente, que as almas dos infiéis ardem no inferno depois que morrem ou que o criador do universo não gosta quando um brâmane se casa com um intocável  - mas bilhões de pessoas têm acreditado nesas narrativas durante milhares de anos. Algumas fake news duram para sempre. (p. 290) 

Quando mil pessoas acreditam durante um mês numa história inventada - isso é fake news. Quando 1 bilhão de pessoas acreditam durante milhares de anos - isto é uma religião, e somos advertidos a não chamar de fake news para não ferir os sentimentos dos fiéis (ou incorrer em sua ira). (p. 290) 

Verdade e poder podem andar juntos só até certo ponto. Cedo ou tarde vão seguir caminhos separados. Se você quer poder, em algum momento terá de disseminar mentiras. Se quiser saber a verdade sobre o mundo, em algum momento terá de renunciar ao poder. Terá de admintir coisas - como as origens de seus poder, por exemplo - que vão enfurecer aliados, desengajar seguidores e minar a harmonia social. (p. 299) 

Silêncio não é neutralidade, é apoio ao status quo. (p. 302)


18. Ficção científica 
O futuro não é o que você vê nos filmes 

A atual revolução tecnológica e científica implica não que indivíduos autênticos e realidades autênticas podem ser manipulados por algoritmos e câmeras de televisão, e sim que a autenticidade é um mito. As pessoas têm medo de ficar presas numa armadilha dentro de uma caixa, mas não se dão conta de que já estão presas dentro de uma caixa - seu cérebro - que está trancado dentro de uma caixa maior - a sociedade humana com suas intontáveis ficções. (p. 307) 


19. Educação 
A mudança é a única constante 

Então, o que deveríamos estar ensinando? Muitos especialistas em pedagogia alegam que as escolas deveriam passar a ensinar "os quatro Cs" - pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade. Num sentido mais amplo, as ecolas deveriam minimizar habilidades técnicas e enfatizar habilidades para propósitos genéricos na vida. O mais importante de tudo será a habilidade para lidar com mudanças, aprender coisas novas e preservar seu equilíbrio mental em situações que não lhe são familiares. Para poder acompanhar o mundo de 2050 você vai precisar não só inventar novas ideias e produtos - acima de tudo, vai precisar reinventar a você mesmo várias e várias vezes. (p. 323) 

[...] não confie demias nos adultos. (p. 328) 

20. Sentido 
A vida não é uma história 

A maior parte das narrativas é mantida junta pelo peso de seu telhado e não pela solidez de suas fundações. Considere a narrativa cristã. Tem a mais frágil das fundações. Que evidências temos de que o filho do Criador de todo o universo nasceu na forma de uma vida à base de carbono, em algum lugar da Via Láctea cerca de 2 mil anos atrás? (p. 346) 

Nas gerações recentes o mais fanático desses credos foi o fascismo. O fascismo insistia que as pessoas não deveriam acreditar em nenhuma narrativa a não ser a nacionalista, e não deveriam ter nenhuma identidade, exceto sua identidade nacional. Nem todos os nacionalistas são fascistas. A maioria dos nacionalistas têm uma grande fé na história de sua nação e enfatizam o mérito exclusivo de sua nação e as obrigações que têm exclusivamente para com ela - no entanto reconhecem que no mundo há mais do que sua nação. Posso ser um italiano leal com obrigações especiais para com a nação italiana, e ainda assim ter outras identidades. Posso ser também socialista, católico, marido, pai,  cientista e vegerariano, e cada uma dessas identidades puxam-me para diferentes direções, e algumas de minhas obrigações entram em conflito uma com a outra. Mas quem disse que a vida é fácil? (p. 357 e 358) 

Em resumo, enquanto o nacionalismo me ensina que minha nação é uma só e que tenho obrigações especiais em relação a ela, o fascismo diz que minha nação é suprema, e que devo a ela obrigações exclusivas. (p. 358) 

21. Meditação 
Apenas observe 
 

O cérebro é uma rede material feita de neurônios, sinapses e substâncias bioquímicas. A mente é um fluxo de experiências subjetivas, como a dor, o prazer, a raiva e o amor. (p. 383) 

[...] meditação é qualquer método para observação direta da própria mente. De fato, muitas religiões fazem extenso uso de várias técnicas de meditação, mas isso não quer dizzer que a meditação seja necessariamente religiosa. Muitas religiões fizeram também uso de livros, e isso não quer dizer que o uso de livros é uma prática religiosa. (p. 385) 

Observar a si mesmo nunca foi fácil, mas pode ter se tornado mais difícil com o passar do tempo. À medida que transcorria a história, os humanos criaram narrativas cada vez mais complexas sobre si mesmos, o que tornou cada vez mais difícil saber quem realmente nós somos. Essas narrativas visavam a unir grandes números de pessoas, acumular poder e preservar a hamonia social. Foram vitais para alimentar bilhões de pessoas famintas e assegurar que essas pessoas não degolassem umas às outras. Quando pessoas tentavam observar a si mesmas, o que comumente descobriam eram narrativas pré-fabricadas. Uma exploração em aberto era perigosa demais. Ameaçaria solapar a ordem social. (p. 389)

No futuro próximo, algoritmos poderão completar esse processo, fazendo com que seja praticamente impossível que as pessoas observem a realidade por si mesmas. Serão os algoritmos que decidirão por nós quem somos e o que deveríamos saber sobre nós mesmos. (p. 389) 




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